segunda-feira, 15 de junho de 2009

MINC -LEIS DE INCENTIVO que desencentivam a cultura










escultura de CAB,em bronze,denominada ANGUSTIA


Publicado em 12 de junho de 2009
Basta de lero lero…
Artigo de Deolinda Vilhena (jornalista, produtora, Doutora em Estudos teatrais pela Sorbonne, pós-doutoranda em Teatro na ECA/USP) publicado no terra, em 12/6/2009
Nada como ser coerente na vida, e em discípula de André Malraux que dizia em Les voix du silence que “a arte, como o amor, não é prazer mas paixão”, aproveito a data de hoje, Dia dos Namorados, para declarar minha eterna paixão pelo (bom!) teatro. Essa paixão alimenta minha eterna esperança, ainda que quase sempre termine em desilusão, com os rumos que ele toma nessa terra sem dono - para não dizer coisa pior, a exemplo do que disse o Carlos Minc, há uns dias atrás - em que se transformou esse nosso Brasil.
A acreditar na atual Constituição e nos deuses da Democracia, o atual governo chega ao fim em 31 de dezembro de 2010, ou seja, daqui a um e meio. Oito anos confiados a esse governo por uma significativa parcela da população, governo que entrará para a história do “nunca, jamais se viu nesse país” por ter passado seis anos e meio discutindo e rediscutindo as possíveis alterações de uma lei, a tal lei Rouanet.
Aliás, no lugar do Embaixador Sérgio Paulo Rouanet, eu já teria entrado com uma ação judicial exigindo que tirassem meu nome da dita cuja, porque do jeito que a coisa anda o coitado deve passar o dia com a orelha em chamas…
Faço parte da minoria que perdeu o jogo democrático, não elegi esse governo por não acreditar ser possível governar sem projeto, coisa que o Partido dos Trabalhadores ignorava. Incompetência ou prepotência o tempo dirá. Porém, se levarmos em conta as tentativas fracassadas de eleger um presidente, não se pode dizer que faltou tempo hábil para preparar um. E, se há uma pasta onde essa ausência de programa excedeu, ela pasta é a da Cultura, na qual vivemos há seis anos e meio em ritmo de “ensaio”, privando toda uma classe de “estreias”.
Desde que, há dois anos, fui obrigada a voltar do meu doce e voluntário exílio parisiense, perdi a conta dos e-mails, convites, abaixo-assinados e convocações que recebi para participar das “discussões” em torno das propostas de alteração na Lei Rouanet. Com medo de parecer “afrancesada”, e temendo ser malhada como de hábito acontece nesse país, mesmo não tendo vocação e muito menos talento para ser torturada como fizeram com a nossa “brazilian bombshell”, aceitei alguns convites. Na maioria das vezes sofri calada diante das sandices discutidas.
Confesso aqui, publicamente, o meu martírio. Essas discussões sem fim e sem conteúdo soavam (soam!) como um castigo para quem passou cinco anos e meio estudando num país - a França, berço do método e do cartesianismo - onde o debate é prática ensinada nas escolas, e onde qualquer criança de 10 anos dá um banho em 90% dos nossos pseudo-intelectuais, no quesito argumento, simplesmente porque a “berceuse” delas inclui uma boa dose de tese, antítese e síntese.
Mas depois de dois anos de mordaça voluntária, decidi abrir a boca, soltar o verbo e desde já peço desculpas aos navegantes usando a máxima de Montaigne, “je donne mon avis non comme bon mais comme mien”. Algo como, dou a minha opinião não como boa, mas como minha…
Em primeiro lugar gostaria que alguém me explicasse e/ou justificasse o baixíssimo, para não dizer irrisório, orçamento do ministério da Cultura? Isso não tem nada a ver com a existência das Leis de Incentivo. Isso é a prova cabal do desinteresse dos governantes desse país pelo quesito cultura.

Resposta a Deolinda ,

Prezada Deolinda,

Posso dizer identicamente o que você afirma, ou seja, reitero todas as suas afirmações, eu que ainda não fiquei tempo tão grande na França, mas que irei esse ano para uma pesquisa histórica.
Logo no começo da gestão GIL, foram feitos encontros onde todo o meio cultural, sem exceção, correspondeu às convocações e participou.
Estive na Sala São Paulo, começando a discutir pontos de vista. Mas essas reuniões se estenderam pelo Brasil todo, nitidamente, muito mais preocupados em fazer campanha, em mostrar que o governo estava atuando, do que pelos resultados obtidos, que como você mesma diz.... não vimos ainda nada de concreto. Afora o desperdício de dinheiro dos cofres públicos, digo de mim, de você, de todos nós que pagamos as contas... que vem sustentando obviamente os inscritos no PT. Aliás, o que aparece me lembra coisa bem pior... e protecionista.

A Lei Rouanet até a posse do PT, sempre foi muito boa, permitiu a realização de inúmeros projetos, grandes e pequenos... cuja burocracia, até o governo do PT entrar e mudar todo o pessoal, estava afinada e funcionava muito bem.
Para começar não creio que seja um problema da lei, mas sim do empresário brasileiro, querendo ganhar sempre em tudo, quer daqueles que produzem nas indústrias, serviços ou cultura não tem olhos para o fazer cultural,mas apenas para o quanto vão ganhar com isso, em espécie.
Politica cultural é apenas uma questão de organização física do setor,e formas de financiar honestamente as atividades...Utopia é Claro.

Deixei de fechar projetos de livros, pela minha editora, pois precisava devolver 50% do valor captado para o projeto a empresários ou banqueiros.
Não o fiz e miquei...
Portanto essa palhaçada, esse lero lero, como você diz , levado a efeito muito mais pelo atual JUCA Ferreira e sua equipe,do que por outros personagens da cultura, e talvez até que ingenuamente com alguma possível vontade de acertar,.....piorou e muito.

Eu por exemplo não trabalho mais com a lei. Trabalho sim e faço cultura todos os dias da minha vida, pois é o que sei fazer... Pois Cultura é o caldo de nossas experiências na vida, é a criação, e a transformação que não depende de lei alguma, é capacidade de nosso povo brasileiro em redesenhar as festas, em criar seus personagens, em dançar e cantar e fazer todo tipo de manifestação... de si mesmo, de sua vida, de sua cultura....Isso é Cultura.
Não é a lei que inventaram para facilitar e que complica. Mas impossível trabalhar no Brasil de forma idônea...ou você é da elite, então é cortado... ou você tem que devolver dinheiro aos patrocinadores, ...ou então não é reconhecido. Mas na hora de prestar contas ai surgem os pequenos ditadores de plantão da burrocracia incriminando todas as pessoas descentes que trabalham com amor e dedicação...

Afinal quem aprovou para o BRADESCO o maior Banco Brasileiro, aplicar suas verbas de lei de incentivos e fazer propaganda escancarada do CIRQUE DE SOLEIl??? Não foi esse governo que ai está e que fala em coibir coisas, ações, verbas...? Uma palhaçada ....ou seja, nos acham a todos com cara de palhaços.... Parabéns a você que gritou e nos deu esperança de gritar... mas não se iludam, apenas de gritar, pois com certeza nada mais conseguiremos, e já não conseguimos dentro dos padrões razoáveis.A Interferência do ESTADO está imensa em todas as áreas de atividade do Brasileiro, E chamar a isso de democracia????Não seria HIPOCRISIA, falta de respeito e safadeza?? Afinal vivemos numa ditadura econômica e política... loteando todo nosso patrimônio entre grupos que se dizem eleitos pelo povo,(ignorante que somos todos nós que ainda votamos) .... eu escreveria mais um milhão de dias sobre essa safadeza generalizada que corre o Brasil do séc XXI....

terça-feira, 9 de junho de 2009















HOMENAGEM A ISRAEL DIAS NOVAES


Foto tirada na inauguração da Biblioteca que leva o seu nome na Casa das Rosas de Avaré, 2007.
Candida Botelho,Israel Novaes e sua irmã.

As Palavras, leva-as o vento...Era assim que Israel me aparecia em todas as circunstâncias que nos encontrávamos na Academia Paulista de Letras, no Instituto Histórico de São Paulo, no Clube Athlético Paulistano, em outras comemorações, ao menos nos últimos cinco anos. Ele era como as palavras que emitidas voavam transformadas em pequenas sementinhas de casca rígida, amarelecidas pelo tempo; que circunvolando, desenhando delicados traços na corrente ascendente no ar acabam por pousar aquém e além em pequenos terrenos férteis e delicados e ali se transformando, se deixando acariciar pela chuva, o vento e a inteligência.
Assim era o Israel, que por ter me presenteado, através da sua filha Maria Amélia, com tão importantes livros, deu origem à minha biblioteca em Avaré sua terra natal.

-De onde você é mesmo? Perguntava-me irremediavelmente toda vez que nos víamos, nesses últimos tempos.
Eu respondia, com carinho e compreensão, sou de Avaré, e citava: sou filha do Dr. Arruda, seu amigo, outra grande figura, como era conhecido meu pai. Estava de novo estabelecido o link. Ai ele me puxava pelos ombros e como um segredo, começava a dissertar sobre sua relação com meu pai...um médico extraordinário....família das mais antigas,...e assim ia lembrando coisas que fizeram juntos, que participaram do primeiro posto de Saúde da cidade, como cuidaram das pessoas carentes e por ai seguia nessa trilha de lembranças.

Virava assim uma festa, que como pequenas luzinhas de Natal acendiam e apagavam e renovavam uma vivacidade escondida guardada na memória, na amizade verdadeira e duradoura, pequenas borboletas que voavam subindo pelo céu ensolarado da vida rica e realizadora, que tiveram...

Um esteio de família de políticos, consciente, musical, capazes de transformar.... Tio da Lucila Novaes,musicista e cantora,cunhado da Margarida Novaes, que deu um show no O PORÃO da Casa das Rosas em Avaré, há pouco tempo atrás, ainda dona de uma voz invejável e um fôlego ainda maior.

Irmão de Dr. Paulinho Novaes, ex-prefeito e deputado federal, tio de Juca Novaes fundador da FAMPOP, em Avaré, alem da belíssima idéia das serestas formando com os irmãos e amigos o grupo Trovadores Urbanos. Enfim tantas pessoas ilustres que o rodeavam nessa constelação.

Soube por minha filha zelosa, a Ana, que ele havia falecido, e que se transformara em cinza na Vila Alpina... não me importei,pois sabia que aquelas cinzas elaboradas em borboletas, iriam continuar voando e dançando como as palavras, na memória de tantos. Plantando sementinhas e crescendo, como era o seu espírito rico, empreendedor, desenhado em livros e em ações sob o olhar condescendente de sua extraordinária esposa, Marina sua grande companheira, sua rocha secular, a presença doce e delicada, própria das grandes damas que estão junto com os grandes homens.

Israel meu amigo de tantas boas lembranças e comemorações!