sábado, 10 de janeiro de 2009

Um toque na estrela . Touche L`etoile

Touche etoile



UM TOQUE NA ESTRELA



Quem não conhece a vocação dos franceses para o questionamento!?Aliás um exercício louvável, bem melhor do que a aceitação de tudo, como fazemos aqui no Brasi.l A aceitação pode ser boa quando bem compreendida , mas pode ser reflexo de passividade quando a fazemos por ignorância, desinformação, falta de preparo.
Um toque na estrela , da Itálicomaravilhosa BENOÎTE GROULT, octagenária, nos dá uma ideia da sensibilidade de um ser humano ao envelhecer e ver suas potencialidades irem se apagando, anunciando um fim, exigindo um necessário desligamento, das ferrenhas lutas que até então praticara e que não deixaram de valorizar a vida enquanto ação, enquanto vida, enquanto presença neste lado da terra.Neste deserto está a força plácida de uma mulher que viveu seus sonhos!
O AMOR vivenciado com coragem, com aceitação através da distância imposta pela vida num texto brilhante, cheio de surpresa.... Nada advinhável.Nada desconsiderado no plano das emoções e sentimentos, nada previsível no seu texto. È preciso atravessá-los com as suas emoções , dúvidas, consternações pelos fatos, para se chegar ao sentimento escondido, mas nem tanto, atrás do texto.....os dois se corresponderam apaixonadamente durante algum tempo mas a vida se encarregou de os devolver à propria trajetória. O destino zomba da moralidade....

Moravam em terras diferentes,e depois desse encontro..., não sabiam que um grande amor
acontece somente uma vez na vida de duas pessoas. E que a desistência de sua relação em prol de verdades atribuidas pelas regras morais poderiam condená-los a nunca mais poder viver essa relação com tempo, paz e prazer , como podemos viver nos casamentos bem sucedidos
.. as perguntas que não teriam resposta: e se voce desse uma chance ao azar? e se escolhesse não escolher ? e se o acaso decidisse sobre o pai dessa criança que iria ter?haveria algo mais redentor do que uma nova vida, permeando as dores das mortes, da ausência, de um vir a ser?

Hah! o espelho das aparências; e cada vez mais ia se despojando desse poderoso senhor,patrão de seus desejos incógnitos prometendo sempre um tempo melhor desde que se mantivesse subjudado a eles.

Dizem que a imortalidade cria invejosos. Como estão enganados! é na esperança de esquecer que , sejamos lúcidos, se intervem para desarranjar os planos.

A velhice muda tudo. Nós que pensávamos ser eternos.... Qual! entendíamos que a vida seria perfeita se tudo fizéssemos da melhor maneira, dentro de padrões eleitos que nos consagrariam e como pessoas a serem homenageadas...eternizadas, respeitadas, se teria garantia de que eram protegidos, pois velhos e ilustres...haveria quem cuidadesse deles.... mas qual! novamente,mas qual! Tudo é negócio.
E o esforço do jovem para tentar ser , chegar a ser, obter os valores e a identidade necessárias a quem começa a vida...O mérito não está em ser jovem,quando se é jovem.Mas o esforço que se faz para continuar jovem quando não se o é mais!!

A mulher mais velha vai se tornando transparente,esbarra-se nela sem a ver na calçada acinzentada e molhada de uma tarde após a chuva, com seus brilhos fatais , vermelhos e lúcidos como os lábios antigos que ela já exibiu. Começa-se a limpar a casa, a dar destino ás coisas sem nosense que fomos acumulando na busca do prazer da vida. Agora tudo é impecilho, trabalho, e meu corpo já fica cansado, coisas que perdem o valor no tempo...amores, bilhetinhos, colares, anéis, lá se vão e os dedos ficam amarrotados, amarrados com lencinhos para lembranças que permitem o não esquecimento de tarefas árduas.

Eu que amo o imprevisto, a canção mais ardente , o vento que chega na madrugada...eu que penso na Moira, na sua cota de destino. A fatalidade , diria Benoulte, que ama o imprevisto e as fendas da existência por onde se infiltram os milagres.

A idade é um segredo bem guardado, falar da velhice é como falar de inverno quando estamos vestidos para o verão.....a velhice uma doença em si mesma...Lutamos para não contraí-la entretanto.

A gente vai seguindo, e passando pelas dificuldades de estabilizar os nossos amores e desejos pela vida afora, mas percebemos, de repente, que a velhice não está ali de vez em quando pousada na gente. Não ela veio e se instalou, e trouxe consigo um amaranhado de coisas , ossos doentes, pés inchados, olhos com olheiras, sorrizos que pretendem ter o visgo da atração fatal, e morrem nos lábios arrocheados e não mais vermelho, carmesin.

Poderíamos perguntar porquê e como, o respeito pelos mais velhos, pelo conhecimento, pela reverência,se dissipa na cultura dessa moçada moderna...E o que restará quando todos esses velhos, que hoje tem 70 anos chegarem `a faixa dos 120?? Cada um começa se desmanchar por uma parte concreta do corpo. Benoîte lembra que suas estruturas foram as primeiras, como se fosse possivel lubrificar as juntas e elas estariam leves novamente, outros é a visão, ou a dor nos joelhos para subirem escadas, antigas bem desenhadas e de madeira em geral.

Muda-se a roupa o tamanho do sapato, os saltos 10, vermelhos ou pretos de verniz, saem da coleção....descem, escorregam são de solados de borracha, silenciosos, pois que não se pode ouvir o passo do velho, o escorregador, a manquidão... mas tudo se faz para não se ver ou fingir que a vida será tão boa agora como antes... o sexxxxxxxo,o amor, a paquera...sei lá. Enfim!

Mas Benoîte , se rebola na linguagem de quem busca um valor que não se sabe mais se ainda se tem.

ver novo texto no blog.

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